O acidente ferroviário de Aracaju foi o pior acidente desse nível no Brasil
O acidente ferroviário de Aracaju, também conhecido como acidente ferroviário de Riachuelo-Laranjeiras, ocorreu no dia 18 de Março de 1946, um dia após o aniversário da capital sergipana, que passou de um dia de festa, para amanhecer com uma tragédia de grandes proporções.
O transporte ferroviário na época
No início e meados do século XX, o trem era o principal meio de transporte utilizado no estado de Sergipe. O trem, apelidado de suburbano, pertencia a Viação Férrea Federal Leste Brasileiro. Ele tinha capacidade para 240 passageiros sentados, entretanto, acredita-se que a locomotiva carregava por volta de 1000 passageiros.
O acidente
O percurso do trem ia da capital Aracaju, em direção ao norte do estado, passando por cidades como Laranjeiras, Riachuelo e concluindo seu percurso em Capela. Por volta das 19 horas do dia 18 de Março, o trem, composto pela locomotiva, cargueiro e três vagões de passageiros, descarrilhou em alta velocidade, ao descer um trecho inclinado da ferrovia, perdendo os freios durante o processo. A tragédia ocorreu no trecho onde fica o povoado pedrinhas.
As vítimas do acidente ferroviário de Aracaju
Após o acidente, o local da tragédia se transformou em um campo de guerra, repleto de pessoas mortas, feridas, mutiladas e pessoas desesperadas.
O número de mortos ainda gera dúvidas, entretanto, foi noticiado na época, que foram 185 as vítimas fatais e mais de 300 os feridos. Muitos dos mortos acabaram esmagados entre os vagões, impedindo a identificação de vários.
O acidente gerou forte revolta na população local e parentes das vítimas, que tentaram linchar o engenheiro da locomotiva, que acabou pedindo abrigo em uma delegacia e posteriormente fugindo, junto com os condutores do trem.
Depoimento dos sobreviventes e investigação policial
Segundo testemunhas e sobreviventes, o socorro não demorou, apesar da escuridão e do difícil acesso ao local, no entanto, os momentos que sucederam foram de pânico total, com gritos, lamentos de homens e mulheres, além de choro de crianças.
Muitos feridos foram levados para hospitais da região, contudo, a quantidade de vítimas era tão grande, que os médicos e enfermeiros ficaram sobrecarregados, segundo relatos da polícia.
Assim como a equipe de resgate, a polícia fazia seu trabalho colhendo informações dos sobreviventes e realizando a perícia técnica. O acidente repercutiu em todo o Brasil, virando manchete nos principais jornais. Os jornais impressos agiram de maneira sensacionalista, cobrando pressa nas investigações e exigindo que se chegasse aos culpados.
Resultado da perícia
No meio de uma investigação bastante controversa, os engenheiros responsáveis concluíram que a linha férrea no trecho do acidente, estava em perfeito estado e que a aplicação brusca dos freios em um trecho de grande velocidade, era superior a admissível no local onde ocorreu o acidente.
Por outro lado, a perícia também encontrou uma pastilha de freios nos destroços, que se encontrava bastante desgastada, ainda assim, o acidente foi o início do calvário do maquinista João Claro dos Santos, apontado como a imprensa sensacionalista, como o culpado da tragédia.
Ele foi um dos que tiveram que fugir para evitar o linchamento da população. Depois disso, ele se entregou à polícia e em seu depoimento, revelou a superlotação do trem, fato que ele denunciou ao chefe do trem, Edgar Simas.
Edgar acionou a polícia, mas pouco adiantou, já que com o trem em movimento, as pessoas invadiram, gerando mais uma reclamação do maquinista, que dessa vez, não teve seu pedido atendido.
João Claro ainda relatou que a última classe apresentou um problema e precisou de reparo, que foi feito pelo funcionário responsável pela tarefa, o foguista. Após iniciar a descida, o maquinista percebe que o problema persiste, acreditando que a superlotação foi a responsável. Seu relato foi confirmado em depoimento pelo auxiliar de maquinista, João Moura Cabral.
No relatório da polícia não foram encontradas provas suficientes para incriminar João Claro, entretanto, ele foi o único condenado no processo criminal, sendo denunciado pela promotoria da cidade de Laranjeiras como causador do desastre.
O maquinista João Claro dos Santos
João foi culpabilizado pela imprensa, pela sociedade e pela justiça, além de ter sua vida pregressa investigada. O maquinista tinha 37 anos de idade na época do acidente.
O homem era casado, morava com a família em Aracaju e era preto, o que na época era mais difícil do que nos dias atuais. O maquinista começou a trabalhar na Viação Férrea aos 13 anos, como aprendiz de ajustador mecânico, sem receber nada durante seu primeiro ano na Companhia.
Ele era maquinista desde 1936, além de ter fundado a União Espírita Sergipana. Apesar de ter tido sua vida completamente revirada, não encontraram nada que comprometesse sua reputação, dessa forma, João Claro foi mais uma vítima do fatídico acidente.
Nome de rua no Siqueira Campos
Desde 1954, a antiga rua Sergipe, no bairro Siqueira Campos, passou a se chamar Rua vereador João Claro e nesse endereço fica o Centro Espírita Irmãos Fêgo, que já foi comandado por Claro e continua em atividade.
João foi eleito vereador em 1934, alguns anos antes da tragédia e um dos motivos para ser acusado injustamente, acredita-se, que diz respeito a sua vida política, já que era líder operário, comunista e preto. A rua com o seu nome é uma das provas de sua inocência.