Tô te ajeitando: Figura icônica do Sergipe de outrora
Publicado em 02/07/2021 por Redação
“Tô te ajeitando” – Uma das figuras mais icônicas de Sergipe de outrora
Nas décadas de 1960 e 1970, talvez até muito antes, um homem de baixa altura, raquítico, todo encurvado e olhos apertados, desfilava pela Rua João Pessoa (hoje calçadão para pedestres), recebendo cumprimentos de muita gente influente na cultura e política de Sergipe. Por outro lado, algumas pessoas, com menos escrúpulos, o apelidava para receber em troca uma série de palavrões, capaz de fazer corar qualquer pessoa minimamente recatada.
Domingos Correia Silva, nascido em 17 de maio de 1915, conhecido como “Tô te ajeitando”, era um alagoano que migrara ainda jovem para Aracaju, de cuja vida se sabe muito pouco. Ao lado Igreja de São Salvador, possuía um pequeno quiosque de chapa metálica, com uma portinhola na frente, onde fazia a venda de bilhetes da Loteria Federal, mas que não era sua única fonte de renda, pois costumava a circular pelas ruas centrais portando cartazes de propagandas de lojas.
Dizem que o apelido “Tô te ajeitando” surgiu porque ele se apaixonara por uma garçonete da Sorveteria Yara e ele contava essa sua pretensão para os amigos. Dizem que quando alguém perguntava se já estaria namorando a moça, ele mansamente respondia: “Tô ajeitando” e esse termo acabou recebendo a inclusão do pronome “te” e virou o apelido de Domingos Correia Silva, seu nome de batismo, pelo qual pouca gente o conhecia. Ele mesmo cansava de dizer que se alguém o chamasse pelo nome verdadeiro, não lembraria que se chamava assim.
Mas, como nem tudo são flores, havia um apelido que tirava o sossego do pobre “Tô te ajeitando”, fazendo com que ele perdesse completamente as estribeiras e berrasse os palavrões e fizesse os gestos mais proibidos da época. Ele trajava sempre um conjunto de calça e camisa da mesma cor, apertados em seu corpo esquelético, desenhando a sua estrutura óssea e mostrando claramente a sua genitália comprimida nos tecidos. Isso lhe valeu o odiado apelido “Macaca de Maiô”. A molecada que perambulava entre o Mercado Thales Ferraz e as ruas centrais de Aracaju, os engraxates, carregadores, vendedores ambulantes e outros, não perdiam a oportunidade de darem boas risadas, apelidando “Tô te ajeitando” .
Cantava em programas de rádio. Dizem que fora tenor lírico no passado, mas que, com a velhice, a voz foi perdendo o brilho, coisa comum que se materializa com o passar dos anos. Sempre cantava para a sua amada, cuja união estava apenas enraizada na sua pobre cabeça, de forma platônica.
Aproveitava a ida ao rádio para fazer de forma gratuita a propaganda da Bilheteria Hortencinha Stail, que era o nome de batismo do quiosque onde vendia seus bilhetes. “Tô te ajeitando” partiu, nem sei quando, mas jamais deverá ser esquecido.
Imagens: aracajuantigga.blogspot.com